O Irã prometeu e cumpriu. Desde 1º de abril, Teerã ameaçava retaliar Tel Aviv pelo bombardeio à embaixada do país em Damasco, na Síria. Entre os sete oficiais mortos, estava o general Mohammad Reza Zahedi, alto comandante da Guarda Revolucionária.
Na noite de sábado, 13 de abril, no horário de Brasília, foram lançados cerca de 300 drones e mísseis contra o território israelense. Até o início da noite de domingo, Israel contabilizava 12 feridos. Uma menina de 10 anos ficou gravemente machucada por estilhaços. E uma base militar foi atingida, sem grandes prejuízos.
Nas contas das Forças de Defesa israelense, 99% dos artefatos foram interceptados ou por aviões de Israel, dos Estados Unidos, do Reino Unido e da Jordânia ou pelo ultrassofisticado sistema antimíssil Domo de Aço.
Por volta da meia-noite de sábado, o Irã anunciou o fim da investida contra Israel, garantindo que todos os seus objetivos retaliatórios haviam sido contemplados.
Há, porém, uma ameaça feita repetidamente por Teerã em momentos de tensão com os Estados Unidos e seus aliados, que jamais é cumprida — o bloqueio do Estreito de Ormuz.
Canal de conexão entre o Golfo Pérsico e o Oceano Índico, a passagem é fundamental para o comércio global de petróleo.
No primeiro semestre de 2023, passaram diariamente por ali 21 milhões de barris — o equivalente a 21% do consumo mundial, informam os analistas da agência de informação sobre energia dos Estados Unidos (EIA, na sigla em inglês).
A promessa não cumprida
Em 9 de abril, Ali Reza Tangsiri, chefe da Marinha, da Guarda Revolucionária, havia voltado à carga: “Podemos fechar o Estreito de Ormuz, mas não o fazemos. No entanto, reveremos nossa política se o inimigo nos pressionar.”
Por enquanto, as bravatas iranianas em relação à rota marítima não passaram disso. O que não impede Teerã de perturbar a região, com a interceptação de navios do “inimigo”.
No próprio sábado, pela manhã, antes do ataque aéreo, a Força Naval da Guarda Revolucionária deteve o porta-containeres MSC Aries, de bandeira portuguesa, operado pela Zodiac Maritime, empresa do bilionário israelense Eyal Ofer.
Em 2021, os iranianos tomaram o navio Hankuk Chemi, da Coréia do Sul. A justificativa? Carregada de etanol, a embarcação estaria poluindo as águas.
O caso aconteceu em meio às pressões de Teerã pela liberação de US$ 7 bilhões, bloqueados em bancos sul-coreanos, devido a sanções impostas pelos Estados Unidos, por causa do programa nuclear de Teerã.
Em julho de 2019, a mesma Guarda Revolucionária reteve o navio-tanque britânico Stena Impero, a caminho da Arábia Saudita, sob o argumento de desrespeito às leis internacionais de navegação.
Pouco tempo antes, uma embarcação iraniana havia sido detida pela Marinha do Reino Unido, nas águas de Gilbratar, por transportar petróleo para a Síria, o que infringia as sanções da União Europeia contra a ditadura de Bashar al-Assad.
Vantagem estratégica
Do ponto de vista militar, não seria difícil para Teerã bloquear Ormuz.
Com 210 quilômetros de extensão, o estreito tem, no máximo, 100 quilômetros em seu ponto mais largo e 54 quilômetros de largura mínima e se situa entre o Irã, ao norte, e Omã e Emirados Árabes Unidos, ao sul.
A vantagem estratégica do Irã em relação aos outros dois países é sua longa faixa costeira, que se estende do Golfo Pérsico ao Golfo de Omã.
O fechamento da passagem, no entanto, é pouco provável.
Se o fizesse, Teerã poderia se indispor tanto com os vizinhos que dependem das exportações de petróleo quanto com aqueles cuja economia está atrelada à importação do produto.
O Estreito de Ormuz é o ponto de estrangulamento do trânsito de petróleo mais importante do mundo, como definido pela EIA.
“Os pontos de estrangulamento são canais estreitos ao longo de rotas marítimas globais amplamente utilizadas, essenciais para a segurança energética global. A incapacidade do petróleo de transitar por um ponto de estrangulamento importante, mesmo que temporariamente, pode criar atrasos substanciais no fornecimento e aumentar os custos de transporte, aumentando os preços mundiais da energia”, informam os especialistas americanos, no relatório mais recente da agência.
E eles prosseguem: “Embora a maioria dos pontos de estrangulamento possa ser contornada através de outras rotas, que muitas vezes aumentam significativamente o tempo de trânsito, alguns pontos de estrangulamento não têm alternativas práticas”.
Apenas a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos possuem oleodutos em operação capazes de evitar o Estreito de Ormuz.