“O Blue Note agora fica a um minuto e 47 segundos andando do Copacabana Palace”, destaca o empresário Luiz Calainho ao NeoFeed.
O clube de jazz, que operava em Ipanema e foi fechado na pandemia, será reinaugurado no dia 5, numa estrutura ampliada, com dois palcos e uma varanda externa com vista para o mar. Ocupa o prédio reconfigurado da antiga casa de show Bolero que funcionou até o anos 70 e onde até Janes Joplin se apresentou.
Calainho, que detém as franquias da casa novaiorquina no país, conta passos e segundos porque com a nova sede carioca, agora na Avenida Atlântica, está recuperando terreno. Ou melhor, resgatando um dos símbolos do que ele chama de “retomada espetacular” da economia criativa no país, “com o perdão do trocadilho”, brinca
Depois do confinamento da pandemia, que abalou drasticamente o setor de entretenimento, o sempre superlativo Calainho, está embalado pelo “tsunami” de público e recursos do setor que está beneficiando as 11 empresas de sua holding de economia criativa, a L21 Corp. Tanto é que já está antecipando a programação de 2024.
Para o fim do próximo ano, ele já tem programado a vinda do Festival Blue Note, com jazz e bossa nova, que se tornou um marco na casa mãe, em Nova York. O investimento previsto no evento é de R$ 3,8 milhões e será feito em parceria com patrocinadores, como praticamente todos os negócios da L21. O patrocinador master do Blue Note, por exemplo, é o Porto Bank.
A Aventura, sua empresa de espetáculos musicais em sociedade com Aniela Jordan, está em ritmo frenético e completará oito produções em cartaz este ano como “Elis, a musical”, O Jovem Frankenstein” e “Floresta Amazônica”. Só Mamma Mia atingiu o público recorde de 82 mil espectadores.
Outras três montagens estão programadas para o primeiro semestre de 2024, com investimentos entre R$4 milhões e R$ 6 milhões, cada uma. Entre elas, o inédito “Hip Hop Hamlet”, uma reinterpretação musical da obra de Shakespeare.
“Na L21, a verba de marketing cresceu 45% este ano. São empresas que canalizaram recursos na criação de conexão presencial e engajamento com o público por meio da cultura.”
Calainho destaca, contudo, que nestes últimos anos o perfil do patrocínio mudou. “Até a pandemia, 40% dos nossos projetos patrocinados eram feitos por meio das leis de incentivo”, diz.
“Hoje, este percentual está em 25% e deve-se se manter assim mesmo com novos estímulos municipais, estaduais e federais que surgiram.”
É certo que a “morosidade” para aprovação de projetos e a “demonização” da lei Rouanet no último governo afastaram as empresas. Mas este novo desenho, diz, é mais do que um reflexo conjuntural.
“É uma mudança de postura e prioridade das empresas que estão acompanhando o desejo do público por interação. Só a publicidade não é suficiente para o posicionamento de uma marca.”
A holding deve alcançar o faturamento de R$128 milhões, este ano, um crescimento de 14% em relação ao ano passado. Só a Aventura deve responder por R$38 milhões, R$10 milhões a mais que o período anterior. 2023 marca os 15 anos da empresa de musicais, com 42 espetáculos encenados, sendo 18 criações do zero, e público de 4 milhões de pessoas no período.
Fundada em 1999, a L21 Corp é um ecossistema “sinérgico” de empresas de conteúdo e mídia. Entre elas estão as rádios Paradiso Rio e Mix, que foram os canais oficiais do Rock in Rio e The Town, este ano. Há a gravadora, Musickeria, de projetos musicais para marcas.
No guarda-chuva da Aventura, fica a gestão dos teatros com contratos de naming rights como o Prudential (360 lugares) e Riachuelo (mil lugares), no Rio de Janeiro.
Uma de suas frentes de maior projeção musical, contudo, é o Noites Cariocas, projeto iniciado por Nelson Motta nos anos 80, e retomado no ano passado como Tim Music, com shows no Parque Bondinho Pão de Açúcar, no Morro da Urca.
A holding conta hoje com 374 colaboradores e já prevê um crescimento na contratação de pessoal de 18% no próximo ano para dar conta das novas frentes.
Quando começou o negócio, na virada do milênio, Calainho queria potencializar sua experiencia de publicitário e executivo em companhias como a então cervejaria Brahma, “onde aprendi muito com Marcel Telles”, e na Sony Music, em que foi diretor e vice-presidente por dez anos.
A música sempre foi o fio condutor em sua vida desde quando, ainda criança em Zurique, onde nasceu e morou, lembra de forma premonitória, cantava “The Sound of Music” a plenos pulmões. Anos depois, ele criaria a Aventura estreando com o musical “A Noviça Rebelde” e levando aos palcos sua canção preferida.
“O Brasil é o país mais rico do mundo em economia criativa. Como executivo de multinacional eu viajei muito e posso te assegurar. Xaxado, pagode, sertanejo, samba, pop, rock. Ninguém tem essa diversidade.”
E foi o que o motivou a criar a holding. “Porque música perpassa tudo na nossa vida e está em todos os lugares no teatro, no restaurante, na rua.”
Aos 57 anos, segue criando conexões entre patrocinadores e conteúdos culturais que acredita. E deve cantar com a mesma animação infantil “Meu coração será abençoado com o som da música”.