Fed tem “culpa no cartório” pela inflação alta, acredita Apollo

Fed tem


Os dados do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos em março mostraram que o tema da inflação está longe de ser resolvido. E os integrantes do comitê de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), o Fomc, não têm ninguém para culpar, apenas a si mesmos, pela situação.

A dura crítica foi feita por Torsten Slok, economista-chefe da Apollo Global Management, gestora de private equity, que detém US$ 651 bilhões em ativos sob gestão (AuM, na sigla em inglês).

O economista – que já tinha listado, no começo de março, dez motivos para o Fed não cortar os juros em 2024 – disse em entrevista ao site Marketwatch que trilhões de dólares em recursos foram criados nos cinco meses após o presidente do Fed, Jerome Powell, sinalizar, em novembro, que não esperava novos aumentos de juros.

Segundo Slok, esses recursos acabaram fluindo para as famílias, contribuindo diretamente para manter os gastos dos consumidores em alta, dificultando que a inflação cedesse nos Estados Unidos.

A postura dovish de Powell foi sucedida, em dezembro, pela divulgação das expectativas dos integrantes do Fomc sobre a direção da política monetária. Elas apontavam para três cortes de 0,25 ponto percentual em 2024, o que “desencadeou uma flexibilização dramática das condições financeiras”, segundo Slok.

Ele disse ainda que os efeitos dos aumentos de juros feitos entre 2022 e 2023 “estão sendo neutralizados e desconsiderados pelo mercado de ações” e que é “muito claro, neste momento, que a inflação, por causa do alívio das condições financeiras, está muito forte”.

Slok já vinha sinalizando sobre a falta de espaço para cortar juros nos Estados Unidos. Em março, quando divulgou em nota aos clientes as dez razões para o Fed não começar a afrouxar a política monetária, ele disse que a economia americana não estava reduzindo o ritmo. E que os comunicados do Fed “vêm proporcionando um forte vento favorável ao crescimento desde dezembro”.

Exceto para Slok, a expectativa no mercado era de que o Fed começasse a começasse a cortar os juros do patamar de 5,25% a 5,5% em junho. Mas após o CPI de março, os economistas começaram a rever suas projeções. O UBS, por exemplo, passou a projetar que o Fed fará dois cortes de 0,25 ponto percentual nos juros, o primeiro em setembro e o segundo em dezembro.

O Fed já vinha adotando um discurso mais cauteloso em relação aos rumos da política monetária. Em 29 de março, Powell disse que o momento robusto da economia permite ao banco central não ter pressa em iniciar um ciclo de corte de juros. “Queremos ter mais confiança antes de reduzirmos os juros”, afirmou.

No começo de abril, o presidente do Fed Minneapolis, Neel Kashkari, sinalizou a possibilidade de não haver cortes de juros em 2024, se a inflação não ceder.

Questionado sobre a possibilidade de o Fed elevar e não reduzir os juros, Slok disse colocar uma probabilidade de apenas 25% de que ocorram novas altas, avaliando que o banco central americano ainda vai querer ver os efeitos dos apertos passados na economia.



Fonte: Agência Brasil

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