Eles eram quatro. E como gostavam de uma festa. Ao redor de seus 30 anos e bem relacionados, decidiram fazer da diversão um negócio e, da alegria em reunir os amigos, um propósito. Assim, em 2009, Bruno Dias, Felipe Aversa, Gustavo Guizelini e Dado Ribeiro fundaram a Haute.
Passados quinze anos, hoje, a agência é apenas uma das 15 empresas do UmaUma.
Fruto da fusão entre a Haute e a Fishfire, o grupo foi lançado em 2017. Os “sócios-baladeiros”, antes quatro, com Guilherme Teixeira, Pedro Braun, Lourenço Braga, Fabio Di Gregorio e Pierre Grego, viraram nove.
E, como um noneto bem afinado, têm a ambição de transformar a holding no maior ecossistema de entretenimento do Brasil.
Até agora, parecem estar no caminho certo. Com um crescimento médio de 30% ao ano e responsável por alguns dos eventos mais badalados do País, o UmaUma se lança agora em um novo setor – a indústria do turismo.
Batizado Rancho Churrascada, o empreendimento está localizado na cidade paulista de Espírito Santo do Pinhal, quase na divisa com Minas Gerais. Em meio à exuberância da Serra da Mantiqueira, o complexo compreende um restaurante e dez cabanas, com dois quartos cada uma.
Entre cachoeiras, rios e lagos, o rancho oferece passeios a cavalo e as chamadas “experiências rurais”, como ordenhar vaca, colher ovos no galinheiro, visitar vinhedos e plantações de café. O restaurante foi inaugurado recentemente e a hospedagem começa a funcionar em três meses.
Foco no público final
Do ponto de vista de estrutura do negócio, o complexo está sob o cuidado da agência Churrascada, um dos empreendimentos de maior sucesso do UmaUma.
Criado em 2015, pela Haute, o festival gastronômico especializado em churrasco rodou o Brasil. Foi tão bem recebido que, cinco anos depois, se consolidou no Fazenda Churrascada.
Ocupando uma construção do século 19, no Morumbi, em São Paulo, o restaurante com jeitão de evento recebe 40 mil pessoas todos os meses.
A chave para o sucesso do UmaUma está na filosofia adotada pelos fundadores, no tempo que ainda não eram uma holding. O foco de qualquer evento tem de estar sempre no público final, mesmo quando o cliente é corporativo.
“Não criamos nada baseado apenas no que a marca quer”, diz Bruno, em conversa com o NeoFeed. “Pensamos no que o público que a marca quer atingir quer.”
O UmaUma costuma arrastar multidões para suas festas. Desde 2017, somando todos os eventos, foram cerca de 3 milhões de pessoas.
O mais recente, o Carnaval na Cidade 2024, levou 52 mil foliões para um clube na zona norte paulistana. Com ingressos entre R$ 190 e R$ 1,3 mil, por dia, a festa contou com shows de Anitta, Ludmilla, Ana Estela e Banda Eva.
Em sua 15ª edição, o Réveillon em Trancoso reuniu, ao longo de seis dias, cerca de 5 mil pessoas, no vilarejo do sul da Bahia, com pacotes a partir de R$ 6 mil. O do Preá, no litoral cearense, outras 1,2 mil. E, para os quatro dias do Arraial Estrelado, são esperadas 50 mil, no Jockey Club de São Paulo – em 2023, foram 27 mil.
Eventos proprietários
Além das festas, com o lema “entretenimento é a nova mídia”, o UmaUma tem circulado com desenvoltura pelos chamados eventos proprietários.
Em tempos de marketing de engajamento, para conquistar os consumidores, as marcas oferecem algo além do esperado. Proporcionam a eles experiências – que, espera-se, sejam memoráveis.
No portfólio do grupo, constam clientes e/ou parceiros como Budweiser, iFood, Amazon Prime, Gatorade, Hemmer, Diageo, Burguer King, Mercado Livre…
Lá atrás, no começo de tudo, o primeiro cliente corporativo da Haute foi a Budweiser. Em 2013, a cervejaria contratou a agência para um projeto em torno da Copa das Confederações.
Bruno, Felipe, Gustavo e Dado pensaram: “Como nós gostaríamos de assistir aos jogos?”. Em casa, com os amigos.
Foi o que fizeram. Em uma mansão no Jardim Europa, bairro nobre da capital paulista, eles ergueram a Bud Mansion.
Com diversas atrações, como a noite do pôquer, o endereço funcionou durante todo o campeonato, mesmo nos dias sem futebol – 800 pessoas por dia. A experiência deu tão certo que a cervejaria virou cliente assídua.
Festa sempre
O bom desempenho, tanto da Haute quanto da Fishfire, na organização dos eventos proprietários se manteve com a formação da holding.
Os nove poderiam ficar apenas com as ações corporativas. Afinal, eles estavam mais velhos, casados, com filhos… poderiam dar uma sossegada; já não tinham tanto pique para para as noitadas.
“Mas não podíamos nos acomodar”, lembra Bruno. “Tínhamos de manter nossas festas.”
As baladas, como ele explica, garantem capital de giro e a independência do negócio. Funcionam também como cartão de visita, na concorrência por novas marcas. E, além de manter o mailing sempre atualizado, servem de termômetro para mapear os desejos do público final. Hoje, o grupo conta com 15 unidades de negócio.
A agência Cigarra, por exemplo, dedica-se à comunicação digital, assessoria de imprensa, pessoas e collabs, A Spicy foca no público high end. A Efeito e a Stage estão centradas nos mercado LGBTQIA+ e universitário, respectivamente.
A Voilà é uma marca de vinho francês, engarrafado com exclusividade para o UmaUma. E a Sounds Food faz a gestão de bares, restaurantes e baladas.
Aquela música
Já a Briefing cuida do gerenciamento de bandas e DJs. “Como o próprio nome diz, os artistas são ‘brifáveis”, explica Bruno. Cantores e músicos que não se incomodam quando, em uma festa, algum convidado pede para tocar “aquela música”. Isso, sim, é entender de público final.
As agências do UmaUma são independentes, mas complementares – não há, portanto, risco de canibalização do negócio.
Além disso, cada uma é tocada por especialistas em suas áreas, que se juntam à holding em sociedades específicas.
Atualmente, além dos nove sócios fundadores, a holding conta outros 23 coproprietários.
“Nosso modelo organizacional é horizontal. Não temos hierarquia, não temos CEO”, conta Bruno. “Todo mundo tem voz.”
Três empresas do grupo, aliás, nasceram de sugestões de colaboradores; agora sócios.
Uma delas é a Nozy, focada em produção de conteúdo e mídias. A agência foi fundada em 2023, junto com Giovana Viscardi, da equipe da Fishfire, desde 2015.