Quando fundou a Bridgewater Associates, em 1975, Ray Dalio, nunca imaginaria que um dia teria que batalhar contra sua própria empresa para fazer negócios. Mas isso está acontecendo.
O megainvestidor deixou oficialmente a liderança do maior fundo de hedge do mundo – com mais de US$ 160 bilhões sob gestão – em 2022. Em sua saída, ele precisou assinar um acordo de não concorrência, que agora está atrapalhando uma negociação com o Sheikh Tahnoon bin Zayed Al Nahyan, conhecido como o “homem do dinheiro” da família real de Abu Dhabi.
De acordo com a agência Bloomberg, o investidor, por meio do seu family office, e o Sheikh planejavam se unir para abrir uma operação de gestão de ativos com base no centro financeiro de Abu Dhabi para a G42, empresa de inteligência artificial criada por Tahnoon.
No negócio, Dalio gerenciaria parte do dinheiro em troca de uma taxa, mas, até o momento, ele só teria fornecido conselhos informais na operação. Um dos entraves para o negócio é se Dalio pode ou não usar a propriedade intelectual da empresa na parceria.
Com o possível negócio, a G42 tem ambições de se tornar uma potência de IA no Oriente Médio. Desde seu lançamento, em 2018, a empresa já enfrentou, porém, investigações em alguns de seus investimentos.
Uma delas ocorreu no início deste ano, após o CEO da companhia afirmar que se afastaria da China para ficar ao lado dos Estados Unidos em novos negócios. Apesar do compromisso, uma nova empresa de investimentos em Abu Dhabi assumiu a gestão do fundo da companhia focado no país asiático, mantendo os ativos nas mãos de Sheikh Tahnoon.
As conexões entre Dalio e Abu Dhabi são antigas. O Abu Dhabi Investment Authority, agora presidido pelo Sheikh, foi um dos principais apoiadores da Bridgewater quando Dalio fundou a empresa.
Quase 50 anos depois, o bilionário investidor estabeleceu uma filial de sua gestora no emirado e tem forte participação no sucesso de Abu Dhabi no mundo dos hedge funds.
A “aposentadoria” da Dalio
Em 2022, a saída do bilionário de seu próprio fundo chamou a atenção do mercado. De acordo com o jornal The New York Times, Dalio teria recebido uma boa “rescisão” ao deixar a Bridgewater, que chegou a casa dos bilhões de dólares.
Segundo o jornal americano, diferentemente do foi anunciado ao mercado, os termos de sua saída não foram amigáveis. Na época, a decisão foi atribuída, em parte, a comentários controversos que o bilionário fez sobre os direitos humanos da China, que teriam causado problemas para a gestora.
Apesar de relatos de funcionários da companhia, os líderes negaram as afirmações, da mesma forma que estão fazendo com o negócio agora em Abu Dhabi.
“Bridgewater e Ray comunicaram que não houve discussões ou conflitos sobre esses temas, e que qualquer coisa que sugira o contrário é completamente falsa”, disseram Dalio e Bridgewater em comunicado. “A Bridgewater não comenta sobre suas parcerias de clientes, passadas ou presentes.”
Atualmente, a Bridgewater é liderada pelos executivos Nir Bar Dea e Mark Bertolini, que dividem o cargo de CEO.
“Ao longo dos últimos dois anos, eu observei e orientei eles para que possam tocar a Bridgewater sem minha interferência e eles foram ótimos”, diz o trecho de um dos tuítes de Dalio, no qual anunciou sua aposentadoria. Na época, ele transferiu todas as ações com direito a voto para a diretoria e deixou de ser um dos chefes da área de investimentos.
Atualmente, a fortuna da Dalio é avaliada pela Forbes em US$ 15,4 bilhões.