A economia da Índia cresceu 8,2% no primeiro trimestre de 2024 em comparação com o mesmo período do ano anterior – o maior crescimento entre todas as economias do mundo.
O anúncio, na sexta-feira, 31 de maio, reforçou a grande trajetória de desenvolvimento do país na última década, que saiu da nona para a quinta maior economia do mundo, com o Produto Interno Bruto (PIB) registrando avanço médio de 7% ao ano.
Alguns setores puxaram a alta do PIB no trimestre, entre eles a indústria, que manteve o dinamismo apresentado no trimestre anterior, crescendo 8,9%. Os gastos do governo em infraestrutura também impulsionaram o crescimento da construção civil para 8,7%.
Apesar dos números superlativos de crescimento, a Índia ainda enfrenta grandes problemas sociais, incluindo a pobreza abjeta de boa parte da população – cerca de 60% dos quase 1,3 bilhão de indianos vivem com menos de US$ 3 por dia, no limiar do índice de pobreza médio do Banco Mundial. E 21%, ou mais de 250 milhões de pessoas, sobrevivem com menos de US$ 2.
Isso explica o fato de, a despeito do crescimento elevado, o índice de consumo ter ficado em cerca de 4% no primeiro trimestre – inferior à taxa média de crescimento superior a 6% nos anos imediatamente anteriores à pandemia -, devido ao fraco crescimento salarial e a uma recuperação mais lenta nos setores industriais com utilização intensiva de mão-de-obra.
A medição do PIB da Índia é vista com reserva por parte dos analistas, pois não capta totalmente a fraqueza persistente no setor informal da economia, porque utiliza um índice de empresas formais como base para estimar a atividade informal.
Esse “lado B” do boom indiano também tem levado especialistas a descartar as inevitáveis comparações com a China. De 2008 a 2020, o rendimento per capita da China quadruplicou, enquanto o da Índia cresceu apenas 2,5 vezes.
Eleição
O anúncio do crescimento do país ocorre a menos de 24 horas para o encerramento das eleições gerais, o maior evento democrático do planeta, com quase 1 bilhão de pessoas aptas a votar.
O processo, iniciado em 19 de abril, deverá referendar a nova reeleição do primeiro-ministro Narendra Modi, que busca o terceiro mandato – o que o tornaria primeiro líder da Índia desde Jawaharlal Nehru (1947 – 1964) a cumprir três mandatos consecutivos.
Modi está por trás do grande avanço indiano da última década, com PIB crescendo acima do dobro da média mundial, que foi de 3,2%.
Sob seu governo, a despeito dos graves problemas sociais, o país apresenta um crescimento elevado constante, com moeda estável e forte disciplina fiscal.
O número de aeroportos dobrou e o total de estradas rurais aumentou 85%. A capacidade das usinas elétricas aumentou 66% e os apagões tornaram-se muito menos frequentes.
A vibrante cena de startups da Índia, que agora inclui mais de 100 unicórnios – novos negócios avaliados em mais de US$ 1 bilhão – estimulou a atração de empresas de tecnologia ao país, principalmente depois da retração econômica chinesa pós-pandemia.
Como efeito, esse crescimento recente elevou o valor do mercado de ações da Bolsa de Mumbai para cerca de US$ 5 trilhões, colocando-o lado a lado com o de Hong Kong – o preço médio das ações indianas está inclusive superando as da China.
País mais populoso do mundo, com a maioria da população em idade produtiva – ao contrário dos residentes da Europa ou do Leste Asiático, incluindo China -, a Índia aposta no futuro.
Apesar do otimismo, ainda é cedo para cravar o planejamento estratégico de Modi, que pretende colocar a Índia entre as nações com renda per capita mais elevadas do mundo até 2047, no ano do centenário da independência do Reino Unido.