As startups estão na crista da onda para o Enseada, da família fundadora da SulAmérica. O family office acaba de fazer um aporte na Rezultz, empresa que possui uma plataforma para alavancar vendas B2B.
Com o investimento, a Rezultz entra para o portfólio de investidas diretas do family office, que já soma mais de uma dezena de companhias. Entre elas, estão Hashdex, Isa Lab e Pipo Saúde.
“O Enseada é um family office raiz e que tem a obrigação de defender o patrimônio da família”, afirma Louis de Ségur de Charbonnières, executive chairman do Enseada, em entrevista ao NeoFeed. “Além de fazer a gestão do risco, temos que tentar desbravar quais são as tendências do mercado.”
Charbonnières diz que o plano do family office é ter entre 20% e 30% do portfólio alocado em ativos ilíquidos. Além de startups e fundos de venture capital, que entraram no portfólio em 2012, a gestora investe em private equity e no mercado imobiliário. “Em 10 ou 15 anos, o que gera mais valor são os ativos ilíquidos.”
As startups investidas pelo Enseada em geral estão em fase de captação de aportes entre o pré-seed e uma rodada de série A. “Não pode ser de R$ 50 mil, mas também não dá para passar de R$ 5 milhões”, diz Charbonnières, em relação ao tamanho dos cheques.
Não há um setor de preferência. O olhar está mais para a jornada dos empreendedores e para os modelos de negócio das companhias. “Não me venha com ideias, devaneios ou maluquices. O negócio precisa parar de pé. Eu não tenho mais idade para ouvir maluquice”, afirma Charbonnières.
O investidor ressalta que não conhece o mercado de salestech, mas diz que pode ajudar na visão de longo prazo do negócio e na conexão do negócio com outras investidas do Enseada. “Analiso se a pessoa já tem experiência, se o modelo já foi testado e qual o tamanho e potencial de mercado”, diz.
No caso da Rezultz, cujo valor do aporte não foi revelado, Charbonnières diz que o investimento é interessante porque a companhia “está vendendo uma solução para melhorar a vida de quem está querendo vender.”
Ele explica que, quando está investindo, procura fazer o papel de advisor. “Um erro comum das startups é a pressão por resultados. Eu tento falar para os empreendedores que é preciso olhar o negócio com calma, analisar o caixa e ver o que está funcionando”, diz.
Os filtros adotados pelo Enseada vêm da filosofia familiar. “Sempre fomos muito cuidadosos. A SulAmérica é um negócio de gestão de risco, de fazer as coisas com calma. Nada cai do céu”, afirma. “Houve uma festa exagerada no venture capital em que qualquer apresentação de PowerPoint já valia sei-lá-quanto.”
Do lado da Rezultz, o aporte é o primeiro investimento recebido pela companhia, que até o começo do ano atendia pelo nome de PagCartão. A mudança reflete uma alteração no modelo de negócio. Antes de operar como uma salestech, a startup focava sua operação na oferta de meios de pagamento para empresas.
“A gente pivotou o negócio para ser uma operação de cessão de crédito e, posteriormente, para se transformar em uma plataforma de vendas”, afirma Maurício Quinze, cofundador e CEO da Rezultz. “Com o braço de crédito, a gente resolve a dor de liquidez e provê crédito em cadeia para o B2B. Para os compradores, fazemos o alongamento dos pagamentos.”
A ideia da companhia é ser uma plataforma “one-stop-sell” para otimizar as vendas entre as empresas. A startup oferece análises sobre o mercado, serviços de proteção contra riscos de crédito e fraude, e antecipação de recebíveis, entre outros produtos.
Com escritórios em São Paulo, a Rezultz opera com 11 funcionários e tem pouco mais de 2 mil clientes. Entre eles, estão Scania, Chilli Beans, Wellhub e Pirelli. Quinze afirma que essas companhias transacionaram R$ 18 bilhões no ano passado.
O dinheiro captado com o Enseada será alocado no desenvolvimento das vendas. Isso significa contratar novos profissionais, treiná-los e melhorar a comunicação entre os processos. A startup também está mirando atender diretamente o consumidor final no mercado B2C.
A competição da Rezultz se dá com empresas que também atuam como plataformas de vendas para B2B. Nuvemshop e Vtex, que já captaram centenas de milhões de reais junto a gestoras de peso no venture capital, são alguns players nesse mercado.
Investimento em gestoras
Apesar de estar olhando mais diretamente em startups nos últimos anos, o Enseada não deixou de investir em venture capital por meio de fundos – como é de praxe para os family offices. No Brasil, o Enseada tem participações em fundos das gestoras Atlantico e Fuse Capital.
Para avançar nessa estratégia, o Enseada será um dos investidores do novo fundo da Green Rock, gestora das famílias Zoppi e Salomão, que venderam o laboratório Salomão Zoppi para a Dasa em 2017, por R$ 600 milhões.
O NeoFeed antecipou que o family office se tornou uma gestora. O novo veículo tem a intenção de captar entre R$ 150 milhões e R$ 200 milhões com terceiros e será ancorado pelas famílias Salomão e Zoppi. O dinheiro deverá ser utilizado para investir em empresas do setor de saúde – healthtechs ou negócios mais tradicionais.
O Enseada também aloca capital em veículos de gestoras estrangeiras, como a General Atlantic. A gestora que já investiu em gigantes como Uber, Airbnb e Snapchat e no Brasil é acionista da Neon, QI Tech e Locaweb.
“A gente está com um olhar maior para os Estados Unidos e estamos dedicando uma equipe para olhar o mercado asiático”, afirma Charbonnières. “No exterior, eu prefiro investir via fundos. Não é nossa expertise criar um fundo, mas sim escolher o melhor fundo.”