Na Petrobras, muito barulho por nada no caso dos dividendos

Na Petrobras, muito barulho por nada no caso dos dividendos


Quando decidiu frustrar o mercado ao decidir que a Petrobras não iria pagar os dividendos extraordinários, o governo federal criou para si e para a companhia uma tremenda confusão.
E tudo isso para, no fim, voltar atrás e aceitar distribuir 50% do lucro excedente aos acionistas.

A proposta de distribuir R$ 22 bilhões em dividendos extra foi aprovada nesta quinta-feira, 25 de abril, na assembleia geral ordinária, além da possibilidade de a outra metade ser paga ao longo do ano.

O recuo do governo está sendo visto como uma medida para tentar distensionar a situação, além de uma correção de rota, diante da confusão que criou em março, no mercado e dentro do próprio governo.

“Olhando as decisões de hoje, Lula claramente buscou a conciliação e o pragmatismo junto ao mercado, e isso influencia positivamente o fiscal, os juros, o dólar e, é claro, as ações da Petrobras”, diz, em nota, João Abdouni, analista da Levante Inside Corp.

A decisão de não pagar os dividendos extraordinários derrubou as ações preferenciais da Petrobras, no dia seguinte em que divulgou ao mercado que fechou 2023 com o segundo maior lucro de sua história.

A queda de 10,57% das ações preferenciais em 8 de março, e de 10,37% dos papéis ordinários, resultaram numa perda de R$ 55,3 bilhões em valor de mercado no pregão, segundo dados da Elos Ayta Consultoria.

A medida também colocou Jean Paul Prates na berlinda, com especulações de que ele poderia ser demitido ou pedir demissão, além de alimentar rumores de que haveria uma disputa entre ele e o ministro de Minas e Energia (MME), Alexandre Silveira.

Um sinal disso pode ser visto na teleconferência dos resultados do quarto trimestre de 2023. Nela, Prates disse que o plano da diretoria era distribuir metade do lucro remanescente, mas que os conselheiros da União decidiram pela retenção integral.

O ministro e Minas e Energia já negou publicamente que Prates seria demitido, ainda que recentemente tenha falado sobre uma “correção de rumo” na Petrobras, citando o anúncio da companhia, em 17 de abril, de que fará investimentos para revitalizar e retomar as operações da fábrica de fertilizantes Araucária Nitrogenados, subsidiária integral da companhia. A unidade, localizada no Paraná, está hibernada desde 2020.

Diante da crise que criou, o governo decidiu recuar e manter aquilo que a diretoria da Petrobras tinha proposto ao conselho de administração. Antes da decisão de hoje, o governo já dava sinais de que estava revendo sua posição. E com isso, as ações da Petrobras vinha se recuperando, segundo Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.

Ele destaca declarações feitas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que disse que a liberação dos dividendos não prejudicaria os investimentos da Petrobras. Essas, e outras sinalizações do governo, ajudaram a impulsionar os papéis preferenciais da companhia, que acumulam alta de 16,4% em um mês.

Com aprovação dos dividendos extraordinários, o valor de mercado da Petrobras aumentou em R$ 12,7 bilhões, encerrando o pregão de hoje em R$ 561,4 bilhões, ficando apenas R$ 5,5 bilhões abaixo de seu recorde histórico, registrado em 19 de fevereiro de 2024, de acordo com a Elos Ayta Consultoria

“O movimento de alta que presenciamos nos últimos tempos é o sinal mais claro que o mercado entendia que o governo iria deixar de esticar a corda, buscando compor”, diz Lima.

O episódio, porém, traz novamente à tona o fato de que a Petrobras pode ser, a qualquer momento, vítima das circunstâncias políticas do governo no poder, trazendo novamente “ruído” para a tese da empresa. “Não é a primeira vez que isso acontece na Petrobras e não será a última”, diz Lima.

As ações preferenciais da Petrobras fecharam com alta de 2,26%, a R$ 44,25. No ano, elas sobem 11,75%.



Fonte: Agência Brasil

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