Campanha de marketing criativa impulsiona “hit” de terror nas telas dos EUA

Campanha de marketing criativa impulsiona


Embora Um Lugar Silencioso: Dia Um seja o filme de terror de maior bilheteria mundial de 2024, com US$ 254 milhões, um título modesto desponta nos Estados Unidos como a sensação do ano no gênero. Sem gastar muito para evocar forças malignas nas telas, Longlegs —Vínculo Mortal, realizado com menos de US$ 10 milhões, está fazendo barulho como se fosse um blockbuster.

Todo o buzz  já foi o suficiente para fazer do novo longa a maior arrecadação da história da produtora e distribuidora independente Neon, na América do Norte. Com renda de cerca de US$ 60 milhões, em apenas três semanas em cartaz, o título deixou para trás o ex-número um da companhia, Parasita. De 2019, a comédia de humor ácido, com elementos de horror faturou por lá US$ 53,3 milhões e acabou levando o Oscar de melhor filme.

Até então, a obra de terror independente mais bem-sucedida dos últimos tempos era Fale Comigo, de 2022, com a qual a A24 (concorrente da Neon) faturou US$ 48 milhões no mercado doméstico.

Vale lembrar que a A24 foi uma das companhias que recentemente ajudou a revigorar o horror nas telas, com uma abordagem mais artística e psicológica, como em A Bruxa (2015), Hereditário (2018) e Saint Maud (2021), entre outros.

Com estreia agendada no Brasil para 29 de agosto, Longlegs foi escrito e dirigido por Osgood Perkins, curiosamente filho do ator Anthony Perkins (1932-1992), imortalizado no filme Psicose, de 1960, do cineasta Alfred Hitchcock (1899-1980).

Perkins já vinha se exercitando como roteirista e diretor de outras produções de horror, como A Enviada do Mal (2015), A Bela Criatura que Mora Nesta Casa Sou Eu (2016) e Maria e João – O Conto das Bruxa (2020), mas nada que empolgasse tanto quanto Longlegs.

O alcance do novo filme surpreende principalmente por não se tratar de uma produção apoiada em uma franquia de terror já consagrada para atrair o público, como Um Lugar Silencioso.

“Disque Longlegs”

E muito do sucesso pode ser atribuído à uma campanha de marketing criativa e eficiente — a ponto de deixar o espectador intrigado com mensagens codificadas e várias pistas que começaram a ser lançadas seis meses antes da estreia do longa.

Longlegs teve até um número de telefone próprio, para que o espectador pudesse ligar e ouvir o serial killer interpretado por Nicolas Cage fazendo ameaças, com uma voz de dar arrepios. E muitos fãs que ousaram telefonar para o número do criminoso postaram suas reações nas redes sociais, principalmente no TikTok, ajudando a aumentar ainda mais a expectativa em torno do filme.

Seis meses antes da estreia do filme, mensagens codificadas, como essa no jornal “The Seattle Times”, começaram a ser lançadas (Crédito: Reprodução Instagram @longlegsfilm)

Também como parte da campanha de divulgação de “Longlegs”, a página na internet “The Birthday Murders”. traz, além da história de cada assassinato, link para uma gravação do “assassino”, interpretado por Nicolas Cage (Crédito: Reprodução thebirthdaymurders.net)

Osgood Perkins (de camiseta azul) já vinha se exercitando como roteirista e diretor de produções de horror (Crédito: Divulgação)

Até os US$ 60 milhões arrecadados por “Longlegs”, a obra de terror independente mais bem-sucedida dos últimos tempos era “Fale Comigo”, com um faturamento de US$ 48 milhões no mercado americano (Crédito: Reprodução themoviedb.org)

Nos últimos anos, os filmes de terror vêm passando por processo de renovação, com uma abordagem mais artística e psicológica, como o longa “Hereditário”, de Ari Aster (Crédito: Reprodução themoviedb.org)

Produzido pela Neon, “Longlegs” deixou para trás o filme “Parasita”, até então o filme mais rentável da companhia (Crédito: Reprodução themoviedb.org)e

O diretor de “Longlegs” é do ator Anthony Perkins, o “assassino” do clássico do terror “Psicose”, de Alfred Hitchcock (Crédito: Reprodução imdb.com)

Até o longa chegar às salas de cinema americanos, em 12 de julho, a maior parte da história foi mantida em segredo. O público só sabia se tratar de assassino em série que induz pais de família a matarem suas mulheres e filhas em festas de aniversário — o caso ganhou até uma página online, batizada de “The Birthday Murders”.

A Neon chegou a publicar um anúncio enigmático em jornal, como se fosse o serial killer querendo se comunicar com o espectador através de símbolos, fazendo propaganda de seus crimes.

E nenhum material promocional mostrou o personagem de Cage. Nos pôsteres e nas cenas, Longlegs ou cobria o rosto com as mãos ou apenas algum detalhe da sua face era revelado, como a boca, o que deixou a plateia ansiosa pela primeira aparição do criminoso no filme.

Nem dá dá tanto medo assim

Quase irreconhecível com uma maquiagem pesada e pálida, o ator encarna aqui um assassino em série dos anos 90, que há décadas aterroriza as famílias americanas. Ao longo da trama, ele demonstra ter uma conexão tenebrosa com a agente do FBI (Maika Monroe) designada para encontrá-lo, o que inevitavelmente desperta comparações com O Silêncio dos Inocentes, de 1991.

Mas esta não é a única referência feita por Perkins no roteiro. Aqui são usados muitos elementos que há décadas fazem sucesso no gênero de terror, como premonições, rituais satânicos, símbolos deixados na cena do crime, bonecas demoníacas e mulheres mal-intencionadas vestidas de freiras.

Tudo parece calculado para agradar a legião de fãs do gênero, reaproveitando o que costuma funcionar.

Ainda assim, a campanha de Longlegs é melhor do que o longa, que não está à altura de todo o hype, por não ser tão apavorante quanto promete. O roteiro deixa várias pontas soltas e não explora o que leva o assassino a ser quem é.

Fisicamente, o serial killer também não é tão horripilante quanto o material promocional sugere, ao escondê-lo, embora Cage impressione pelo grande domínio de cena, em suas poucas aparições.

O que Longlegs faz de melhor é manter a atmosfera sinistra do começo ao fim. Não há um raio de luz sequer, para tranquilizar a alma, nem que seja de vez em quando. Só trevas.



Fonte: Agência Brasil

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