Desde o início de maio, a Suzano esteve no centro de dois grandes acordos. O mais recente deles envolveu a aquisição, na semana passada, da austríaca Lenzing, por R$ 1,3 bilhão. Já o segundo, ainda em negociação, passa pela compra da International Paper, que criaria uma gigante de papel e celulose.
Apesar de toda essa movimentação do grupo, é no papel da também brasileira Klabin que o Bank of America (BofA) enxerga, neste momento, um maior potencial para capturar os benefícios de um cenário em que destaca diversos “ventos favoráveis” para o setor.
Essa visão mais otimista para o segmento parte de fatores como as surpresas positivas nos preços da celulose, a recuperação do papel tipo kraftliner e a desvalorização do real. Nesse contexto, o banco elevou a recomendação da Klabin, de neutra para compra, e o preço-alvo da ação, de R$ 24 para R$ 28 – quase 40% de upside sobre o preço de tela.
“Atualizamos a Klabin para compra, pois vemos a companhia como um veículo sólido que oferece alavancagem às três tendências mencionadas e também oferece potencial de redução de custos neste ano”, escreveram Caio Ribeiro, Leonardo Neratika, Guilherme Rosito e George L. Staphos.
Com a estimativa de que 39% do Ebitda da Klabin em 2024 venha dos negócios de celulose, o quarteto entende que a companhia vai tirar proveito da recente elevação dos preços da celulose de fibra curta e de fibra longa na China, que subiram, respectivamente, 13,6% e 10,1% no acumulado do ano.
Já no que diz respeito ao kraftliner, o banco destaca a recuperação de preços, com um crescimento acumulado de 3,5% em 2024, após a queda registrada nos últimos dois anos, que levaram esses valores ao patamar mínimo de US$ 715 por tonelada na Europa.
Ao mesmo tempo, os analistas do BofA ressaltam o fato de a Klabin ter anunciado um aumento de 8% no preço do kraftliner e do top liner branco no mercado brasileiro, que deverá ser aplicado neste mês de junho. Cerca de 10% do faturamento do grupo tem origem direta nas vendas de kraftliner.
“Isso marca a primeira tentativa de aumentor os preços no mercado interno em mais de um ano, uma vez que o Brasil enfrentou uma desaceleração da demanda durante a maior parte de 2023, com estoques em excesso e a nova capacidade iniciada no País”, traz outro trecho do relatório.
Da mesma forma, o banco observa que a agenda da Klabin também inclui a elevação dos preços dos seus produtos nos mercados internacionais, o que consolida uma segunda rodada de ajustes anunciados em 2024.
O BofA adiciona um outro componente a essa perspectiva sobre a empresa ao observar que vê a ação da Klabin sendo negociada com um EV/Ebitda de 7,2 vezes, em 2024, e de 6,5 vezes, em 2025, o que configuraria um desconto “atrativo” em relação à sua média histórica de 8,1 vezes.
“Acreditamos que a Klabin também é um veículo atraente para se posicionar em uma desvalorização do real, já que 50% de suas receitas são baseadas em dólares e apenas 17% do seus custos são na moeda americana”, destacam os analistas, que também veem espaços para “surpresas positivas” no guidance de custos da companhia para o ano.
Em um último componente, o banco aponta que a ênfase recente da gestão da Klabin em atingir um nível de alavancagem mais baixo de 2,5 vezes antes de iniciar algum novo projeto reforça a visão positiva sobre a ação.
“Nós acreditamos que isso é importante para aliviar quaisquer preocupações futuras sobre alavancagem e aumenta a probabilidade de que retornos elevados de fluxo de caixa livre se concretizem em 2025”, escrevem os analistas.
Em relação à Suzano, o BofA manteve a recomendação de compra e elevou o preço-alvo da ação, de R$ 80 para R$ 84, ao reforçar a combinação de preços mais altos da celulose com a desvalorização do real, além do fato de a empresa também estar sendo negociada com descontos.
Embora ressaltem o patamar atual como um ponto de entrada atraente no papel, os analistas destacam o excesso de fusões e aquisições no escopo do grupo, a estratégia de internacionalização e a diversificação em diferentes produtos e geografias como pontos de atenção.
“Com informações limitadas sobre possíveis sinergias de qualquer eventual transação de M&A, o valor de uma eventual oferta e o tamanho do financiamento e custo de uma aquisição, reconhecemos que há incertezas, o que poderia adicionar volatilidade às ações”, observam eles, no relatório.
As ações da Suzano, avaliada em R$ 62,2 bilhões, estavam sendo negociadas com ligeira queda de 0,92% por volta das 16h15 na B3, cotadas a R$ 48,52. Já os papéis da Klabin registravam queda de 0,64%, cotadas a R$ 20,23, dando à empresa um valor de mercado de R$ 127,9 bilhões.