Impulsionada pelos carros híbridos, a Toyota estabeleceu um novo recorde ao vender 11,2 milhões de veículos e fechar 2023 na liderança do mercado automotivo pelo quarto ano consecutivo. Essas marcas não significam, porém, que a montadora japonesa tem a pista livre para se manter na dianteira do setor.
Um dos obstáculos à frente ganhou novos contornos nesta segunda-feira, 3 de junho, quando uma investigação do Ministério dos Transportes do Japão concluiu que o grupo apresentou dados incorretos em testes de segurança de sete modelos, além de usar veículos modificados em testes de colisão.
Ao mesmo tempo, a Toyota divulgou uma nota em que admitiu ter fornecido informações inadequadas nesses processos e ressaltou que quatro desses projetos – Crown, Isis, Sienta e RX – já haviam sido descontinuados.
O grupo também anunciou a suspensão temporária das vendas de três modelos produzidos e vendidos exclusivamente no Japão – Corolla Fielder, Corolla Axio e Yaris Cross. E fez um mea culpa ao observar que parte desses veículos foi testada usando métodos diferentes dos padrões governamentais.
“Pedimos sinceras desculpas por qualquer preocupação ou inconveniente que isso possa causar aos nossos clientes e stakeholders que depositaram sua confiança na Toyota”, afirmou o grupo, no comunicado, acrescentando que seguirá fornecendo explicações detalhadas às autoridades.
As conclusões obtidas pelo ministério não estão restritas à montadora. Os resultados apontam falhas ainda em processos das também japonesas Honda, Mazda, Suzuki e Yamaha. A Toyota foi, porém, o estopim para que as autoridades japonesas se debruçassem sobre essas irregularidades.
Esse “pente fino” teve origem em outros incidentes relacionados à empresa, muitos deles, já com bastante estrada. É o caso da descoberta, no ano passado, de que a Daihatsu, subsidiária do grupo, distorceu os resultados de testes de segurança de colisão, com exemplos que se estendem até 1989.
Em 2022, a Hino Motors, outra subsidiária da montadora, admitiu ter adulterado sistematicamente dados de emissões desde 2003. Já em janeiro deste ano, a Toyota suspendeu a produção de motores depois que uma investigação revelou que a empresa havia falsificado dados de potência.
Agora, na esteira desses escândalos, a expectativa é de que a divulgação das novas informações nessa segunda-feira seja mais um combustível para aumentar a pressão sobre Akio Toyoda, chairman da Toyota, mesmo com os bons indicadores reportados pela companhia.
Na semana passada, a Institutional Shareholder Services (ISS) e a Glass Lewis, duas consultorias dos Estados Unidos, ressaltaram essas irregularidades ao recomendarem que os acionistas da montadora votem contra a renomeação do executivo para o cargo – isso sem as informações que se tornaram públicas nesta segunda-feira.
Ainda não é possível mensurar quais serão os desdobramentos desse histórico recente de problemas para a empresa. Entretanto, há outros incidentes na indústria automotiva que guardam algumas semelhanças com esse roteiro da Toyota e sinalizam eventuais riscos e implicações para a montadora.
Um dos principais exemplos envolve a Volkswagen e remete ao ano de 2015, quando veio à tona um escândalo em que a montadora alemã admitiu ter usado um software para fraudar testes de emissões em veículos a diesel, a princípio, nos Estados Unidos e, posteriormente, em outros países.
O caso ficou mais conhecido como dieselgate e, além de abalar substancialmente a reputação do grupo, trouxe, entre outras consequências, a renúncia do então CEO Martin Winterkorn e uma série de batalhas judiciais em todo o mundo, com multas e sanções de mais de € 30 bilhões em multas.
No que diz respeito à Toyota, um possível primeiro reflexo é a queda nas ações da empresa, que recuavam 2,66% na Bolsa de Nova York por volta das 15h10 (horário local), dando à companhia um valor de mercado de US$ 285,1 bilhões. No ano, porém, os papéis acumulam alta de 15,4%.