As bolsas dos Estados Unidos estão negociando a patamares recordes, enquanto no Brasil, o Ibovespa tem uma desvalorização de quase 10% em 2024. Mas há uma coisa em comum entre os dois países: tanto lá, como aqui, os fundos de ações estão enfrentando saques. É o que mostram dados da London Stock Exchange Group (LSEG) e da Anbima.
Os investidores americanos fugiram de fundos de ações e sacaram US$ 21,93 bilhões nos sete dias até 12 de junho, dia última reunião do Fed, o banco central dos EUA. Esse foi o maior resgate semanal da classe desde meados de dezembro de 2022, segundo dados do London Stock Exchange Group (LSEG).
E fizeram isso em meio as altas da bolsas americanas. Tanto o S&P 500 quanto o Nasdaq Composite atingiram recordes pela terceira sessão consecutiva após a decisão do Fed, impulsionado por dados que sugerem que a inflação está desacelerando. No acumulado do mês de junho, o S&P 500 subiu 3,4% e o Nasdaq, 5,45%.
Os investidores de fundos, no entanto, parecem ter ficado mais atentos a indicação do Federal Reserve de que que haverá apenas um corte de juros este ano – e não três como esperado no início de 2024.
“Hoje, o mercado está precificando juros altos por mais tempo e houve uma mudança na composição do portfólio padrão (60% em ações e 40% em renda fixa) para capturar essas oportunidades na renda fixa, ficando um portfolio 50%/50%. Isso tem gerado resgates para ações e captações para fundos de money market e bonds “, diz Rafael Meyer, gestor de multi family office da SWM.
Os fundos de ações large-cap (de grandes empresas) tiveram resgates de US$ 14,94 bilhões, marcando a maior saída semanal desde 21 de dezembro de 2022. Mas os resgates também foram fortes nos fundos de multi-cap (de qualquer tamanho), mid-cap (médias empresas) e small-caps (pequenas empresas), que registraram US$ 2,37 bilhões, US$ 1,43 bilhão e US$ 816 milhões em retiradas líquidas, respectivamente.
Os investidores estão mais dispostos a investirem em fundos de renda fixa. No mesmo período, fundos de títulos de dívida corporativos e fundo de títulos líquidos (money market) atraíram US$ 1,72 bilhão e US$ 20 bilhões, respetivamente. E os fundos de títulos dos EUA atraíram US$ 4,82 bilhões líquidos, marcando a segunda semana consecutiva de entradas.
O que explica a alta dos bolsas americanas e os resgates dos fundos de ações? “Vemos uma altas das bolsas consistentes, focadas em empresas de tecnologia. Que estão indo além dessa tendência geral do mercado de ações”, afirma Meyer, da SWM.
Um exemplo são as ações da Apple, que estão subindo quase 15%, mas que aceleram após a companhia anunciar uma parceria com a OpenAI na área de inteligência artificial. Ou da fabricante de chips Nvidia, que avançam 178% em 2024 – a companhia ultrapassou o valor de US$ 3 trilhões.
O movimento de saída de recursos de fundos de ações não está restrito aos EUA. Ele é global e reflete, em grande parte, os juros altos. De acordo com dados do LSEG, os investidores sacaram US$ 14,67 bilhões em fundos de ações globais durante a semana, o maior volume de resgate desde 17 de abril.
Quem não sofreu com isso? Mais uma vez, a área tech. Os fundos setoriais de tecnologia atraíram 2,2 bilhões de dólares, o maior montante desde meados de fevereiro. Ao mesmo tempo, os fundos globais de dívida corporativos permaneceram populares pela 25ª semana consecutiva, acumulando cerca de 9,97 bilhões de dólares numa base líquida.
No Brasil, os fundos de ações têm sofrido resgate, mas as razões são distintas, além do juro alto. O mercado virou com a percepção de que o governo federal não vai cumprir suas metas fiscais e que vai seguir com a estratégia de aumentar arrecadação, sem cortar custos.
Segundo dados da Anbima, entre 03 e 07 de junho, os fundos de investimento registraram R$ 7,7 bilhões de captação líquida negativa. Nesse período, os fundos de ações encolherem R$ 52,6 milhões. Já no acumulado do ano até maio, os resgates somam R$ 4,2 bilhões. Mas quem mais sofreu foram os fundos multimercado, com resgates de R$ 188,5 bilhões no ano.